Açúcar e Câncer, qual a relação entre eles?
- Vanessa Bonafini
- 25 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de fev. de 2024

Nunca consumimos tanto açúcar quanto hoje. As consequências nefastas desse consumo elevado são muitas, e há fortes indícios de que a isto estejam relacionadas as cinco doenças que mais matam no Ocidente, diabetes, doença cardiovascular, câncer, AVC e mal de Alzheimer , bem como as crescentes taxas de obesidade.
As células, tumorais ou não, utilizam a glicose como fonte de energia, ou seja, todas são “alimentadas” por este açúcar. A glicose é tão importante para o funcionamento do organismo que este tem uma série de estratégias para manter os níveis de açúcar no sangue (glicemia) normais.
A glicose é um nutriente obtido a partir de carboidratos encontrados em alimentos como doces,
frutas, cereais, arroz, milho, farinha, macarrão, pão e em vegetais que contêm fécula como batata, mandioca ou inhame. Além dos alimentos, o organismo pode obter energia a partir de proteína, situação comum quando não há a presença de carboidratos na dieta.
Muitos pacientes evitam os carboidratos por pensarem que o açúcar promove o crescimento das células tumorais. Essa atitude é contraproducente quando o objetivo é o de manter um estado nutricional adequado e quando se está perante os efeitos secundários do câncer e dos tratamentos.
A própria eliminação dos carboidratos da alimentação é geradora de estresse, o que proporciona a ativação de mecanismos que aumentam a produção de hormônios que podem elevar a glicemia e prejudicar a função imunológica.
Por que existe esse boato?
A relação entre açúcar e câncer é indireta. O consumo de grandes quantidades de alimentos ricos em açúcar pode significar uma dieta excessiva em calorias, favorecendo o aparecimento de excesso de peso/obesidade. É esse excesso de gordura que se relaciona com o aumento considerável do risco de diversos tipos de câncer.
Outro fator que pode ter contribuído, foram dados de estudos de dietas cetogênicas (dietas com menos de 20g de carboidrato por dia) em casos de tumores cerebrais. Contudo, os estudos estão em andamento e ainda não há conclusões suficientes para considerar este tipo de dietas como adequada em oncologia, até porque também apresentam desvantagens (sabor, aceitabilidade, possível perda de peso).
A alimentação do doente oncológico deve ser equilibrada, variada e completa. Além disso, a atividade física tem um importante papel na estabilização dos níveis de açúcar no sangue, devendo a sua prática e continuidade ser incentivada.
Glicose – Nossa fonte de energia!
Procurar na internet o termo “açúcar e câncer” nos leva a textos com frases como “açúcar alimenta o câncer” ou “açúcar principal comida do câncer”.
A idéia do açúcar ser o combustível das células cancerosas é uma maneira extremamente simplista de explicar uma biologia celular complexa.
Para começar temos que entender o que é realmente o açúcar.
O açúcar vem de diferentes formas. A forma molecular mais simples é a glicose e a frutose. Essas moléculas simples podem se juntar e formar as moléculas que chamamos de carboidratos. Os carboidratos são nossa principal fonte de energia.
A forma que conhecemos o açúcar, é formado por cristais de glicose e frutose. O açúcar branco que conhecemos é uma das formas mais simples dos carboidratos. Este açúcar é refinado, ou seja ele é processado de sua fonte natural. No refinamento, aditivos tornam o produto branco e delicioso. O lado ruim é que esse processo retira vitaminas e sais minerais, deixando apenas as “calorias vazias” (sem nutrientes). Alimentos não processados também podem ser ricos em açúcar como o mel.
Os polissacarídeos são compostos que possuem varias cadeias de glicose unidos. Alimentos como arroz, macarrão, pão, vegetais como batata, podem não ser doce mas são ricos em açúcar. Estes são carboidratos mais complexos.
A glicose é o combustível essencial de todas as nossas células. Se bebemos ou comermos alimentos ricos em carboidratos simples como o açúcar, este vira glicose no sangue e pode ser usado diretamente por todas as nossas células como fonte de energia. Porém se comermos carboidratos mais complexos como massa ou pão, as enzimas do nosso sistema digestivo irão quebrar esses alimentos em moléculas de glicose que irão ser absorvidas pelo sangue e usadas como fonte de energia de forma mais lenta que o açúcar.
E se pararmos de comer carboidrato?
Se não comermos carboidratos, o nosso organismo vai dar um jeito de quebrar gordura e proteína para formar glicose. Nossas células precisam de glicose para viver.
Açúcar e Câncer – As células do câncer podem se multiplicar mais rápido se usarmos uma grande quantidade de energia como açúcar?
As células do câncer para se multiplicarem precisam de muitos fatores além do açúcar, como estímulos hormonais, aminoácidos, gorduras e oxigênio. Não é só de glicose que ela precisa.
O mito do açúcar e o câncer nasceu da hipótese de se cortarmos todo o açúcar da dieta, as células do câncer parariam de crescer. Infelizmente não é tão simples. Todas as nossas células saudáveis também precisam de glicose, e não existe maneira de dizermos ao nosso corpo como enviar glicose apenas para células normais.
Seguir dietas extremamente restritivas em carboidratos pode atrapalhar nossa saúde à longo prazo.
Eliminar esses alimentos pode ser prejudicial, pois eles são importantes fontes de fibras e vitaminas.
Então se o açúcar não causa câncer porque temos que nos preocupar?
Cortar o açúcar da dieta não ajuda a tratar o câncer, e o açúcar não leva diretamente ao câncer.
Então, por que devemos desencorajar as pessoas a usarem o açúcar como principal fonte de energia?
Porque de forma indireta o açúcar pode aumentar o risco de câncer. Comer muito açúcar durante muito tempo pode levar ao sobrepeso. Evidências científicas mostram que o sobrepeso ou obesidade aumenta o risco de 13 tipos diferentes de câncer. A obesidade após o tabagismo é a segunda maior causa evitável de câncer.
A mensagem que devemos levar para casa é que banir o açúcar não vai impedir a replicação das células cancerosas. Porém, podemos reduzir o risco de câncer com escolhas saudáveis. Diminuir a quantidade de açúcar na dieta é um fator importante para mantermos um peso saudável durante toda nossa vida.
O renomado jornalista científico Gary Taubes aborda, por um lado, a história do açúcar na alimentação humana e, por outro, as pesquisas que apontam seus efeitos maléficos e as que até hoje o isentaram como substância nociva. Vemos como cartéis, governos, agências estatais, a academia, gerações inteiras de médicos e nutricionistas contribuíram para afastar da opinião pública a mera desconfiança de que o açúcar pudesse fazer mal.
Com uma objetividade e uma clareza ímpares, o autor desvenda as implicações de seu consumo e as razões pelas quais ainda há muito que não sabemos sobre como essa substância age no nosso organismo.

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