
Esqueça todas as cenas de novela com mulheres grávidas que você já viu na vida, esqueça todos os contos de fadas, as comédias românticas enlatadas e não leve a sério as mães de consultório médico, ser mãe é pra descer do paraíso com a cara no chão.
Mas se você tiver um pouquinho de bom humor e uma pitada de Pollyanna, vai superar todas as mentiras que contaram para você por aí. Afinal, quem disse que seria fácil?
Você não sabe que nasceu para ser mãe até ser mãe. Acredite. Nada daquilo que te contaram sobre a maternidade é real: seu peito “invariavelmente" vai cair, sua barriga despencar, os fios brancos vão aparecer, as olheiras não vão te largar, suas roupas vão se adaptar, os seus saltos vão se guardar (quem sabe na próxima década?), mas você vai amar. Esqueça tudo aquilo que te contaram e se prepare para viver os momentos mais reais da sua vida.
Pode parecer exagero, tentar te convencer que ter filho é dureza, mas eu tô fazendo aquilo que ninguém faz por você. Ah, dormir, claro que você já sabe que você não vai dormir mais como um anjo até o seu filho completar TODOS os anos da sua vida. Mãe nunca deixa de se preocupar, de prever, de querer entender e resolver. Vai me dizer que a sua mãe não é assim? Não importa a idade que você tenha, lá está ela, pronta para te ajudar e mudar a sua história, enxugar as suas lágrimas, sofrer em silêncio por você e com você. Mas dormir é besteira. Nada que anos de experiência e horas acumuladas não façam por você: a gente se acostuma, vá por mim.
Nunca mais: uma hora para se maquiar, banhos longos e demorados, noites silenciosas e em paz, horas de preguiça pura, nada pra fazer, longas baladas sem culpa, viagens sem choro e saudades, ir ao banheiro sem ninguém para atrapalhar, unhas sempre feitas, cabelos sempre lindos, roupas sempre na moda.
Agora você vai: se maquiar no carro, tomar banho de gato, acordar de madrugada para ver se está tudo bem por lá, acordar com sono, cansada e pronta para brincar, ter sempre muitas coisas para fazer, sair a noite e não ver a hora de voltar correndo para casa, viajar com o marido, chorar com saudades da filha e prometer que nunca mais faz o disparate de sair sem ela por aí, tomar banho com uma mãozinha batendo na porta do banheiro pedindo para entrar, unhas sempre curtinhas, cabelos sempre naturais, roupas sempre compostas…
E de repente o seu filhinho(a) virou um adolescente. De uma hora para outra você foi demitida do cargo de administradora da vida dele e está perdendo terreno para os amigos e as tecnologias.
De repente você sente um aperto no peito porque os convites para sair são seguidos de sonoros. Não quero, não vou, é chato.
De repente você sente medo. Muito medo. Porque foram anos de intensa dedicação ao seu filho que são colocados à prova e você não está segura se fez o suficiente.
De repente você acorda e está sendo julgada: Ah, não soube educar na infância; – O filho está assim porque os pais não deram limites. Os adolescentes de hoje estão assim por culpa dos pais;
De repente você se culpa também: Fracassei, Não soube ser uma boa mãe, Meu filho está igual a mim, e agora? Será que ainda dá tempo?
De repente tudo o que parecia seguro, a criança com futuro brilhante, que teria uma vida melhor do que a sua, menos sofrida do que a sua, com menos ansiedade e tristeza do que você, com mais possibilidades do que você teve, etc, se torna instável. Você vê o seu filho fazendo o oposto do que você, em todos os sonhos de futuro, imaginou.
De repente você se depara com um filho diferente. Diferente no corpo, nas palavras, nas atitudes, no modo de lidar com as coisas, nos perigos que se envolve.
De repente você acorda e está sendo julgada: Ah, não soube educar na infância. O filho está assim porque os pais não deram limites. Os adolescentes de hoje estão assim por culpa dos pais.
É como se todo o seu esforço, a sua dedicação, as horas de cuidado, de sonos não dormidos e de amor, não tivessem sido suficientes para fazer do seu filho a pessoa que a sociedade quer que ele seja. E, secretamente, que o seu filho não tenha se tornado a pessoa que você gostaria que ele fosse.
Ok, deve ser então uma fase, você pensa. E esse pensamento te acalma por algum tempo, até você ler sobre o menino que passou em uma faculdade pública para medicina, da garota que ganhou as Olimpíadas de matemática e ver fotos de pais incríveis postando o quanto se sentem orgulhosos dos seus filhos adolescentes incríveis.
E novamente a vozinha na sua cabeça fica te lembrando que talvez você não tenha feito o suficiente. Você repassa uma série de coisas que leu e que precisa agora praticar. Não pode gritar, não pode se estressar, precisa ter calma, paciência, precisa dar amor e isso será suficiente, precisa rezar mais, e por aí vai.
E você, que parece uma panela de pressão por dentro, se segura para não explodir. Se segura para parecer que está tudo sob controle e que você, assim como todas as mães de adolescentes, sabe o que fazer.
Até o dia em que você transborda e chora. Ou chora todos os dias escondida. Ou reza todos os dias por um milagre. E no dia seguinte recomeça a vida e o ciclo de culpa, medo, frustração e solidão.
No fundo você se sente sozinha porque, oras, as pessoas possuem as suas próprias vidas e não dá muito para você ficar levando os seus problemas para elas. E também é duro ouvir conselhos do tipo “faça isso” ou “faça aquilo” e sentir que todo mundo sabe a resposta menos você.
No fundo você se sente sozinha porque, oras, as pessoas possuem as suas próprias vidas…
Bom, o final desse jogo é você sempre tentando se convencer de que precisa dar conta, afinal, mães são leoas, tem sexto sentido, intuição aguçada e em algum momento encontrarão a resposta, não?!
Pois é querida mãe, te fizeram acreditar em um mundo que não existe e hoje você luta com você mesma para se encaixar nele, mesmo sofrendo e dilacerada por dentro. Você luta para não ser a mãe louca que grita com o filho, a mãe permissiva que estragou o filho, a mãe controladora que sufocou o filho ou qualquer mãe que você acredita que é.
Eu sou uma mãe em evolução. Eu erro, tenho medo e sinto culpa. Tem momentos que eu não sei o que fazer da minha vida e nem com a minha filha e meu filho. Eu não gosto de me sentir vulnerável (na verdade eu detesto com todas as minhas forças), eu me irrito e choro. Minha vida não é perfeita.
Mas esse é o meu palco, lembra? O meu bastidor nem sempre é tão bonito e aceitar isso me fez mais forte, mais consciente e mais feliz.
E indiscutivelmente quando eu me permito ser mais vulnerável a ajuda chega, da pessoa certa, na hora certa.

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