Hoje encontrei essa carta no meio da minha agenda de 2011, assim que terminei meu tratamento escrevi esse texto. Encontrei ela perdida, e para ser sincera eu nem lembrava que tinha ela guardada, confesso que meus olhos se encheram de lágrimas um misto de felicidade por perceber o quanto eu mudei após tudo isso, e uma certa tristeza de lembrar o quanto foi difícil e doloroso. Mais eu Venci.
Faz tempo que a gente não se fala, resolvi te escrever. Na verdade, tivemos pouco tempo de contato, né? Você andou por perto muito tempo sem que eu me desse conta e aí quando percebi que você estava aqui, arrumei logo uma maneira de me livrar de você.
Desculpe, eu sei, você não fez por mal. Aliás, me livrar de você foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz até hoje, porque tive que me livrar de uma parte de mim mesma. Até porque, você era uma parte de mim. Enganada estava eu em pensar que você era um estranho. Você não era nada mais que mais um dos meus defeitos, e ah..eu tenho tantos.
Nossa breve convivência foi suficiente para que você causasse um vendaval na minha vida. É verdade, você mudou tudo de lugar: prioridades, sonhos, objetivos, dia-a-dia.
Mas eu achava que depois que você fosse embora eu ia conseguir te esquecer, que você um dia ia virar lembrança em uma memória fatigada. Que nada. Você está na minha mente 24 horas por dia. É tão difícil não lembrar de você o tempo todo…e dói.
Que? Eu sei, eu sei e já entendi que você não fez por mal, mas eu tive que fazer uma escolha. Se eu te deixasse muito tempo por perto, você ia acabar fazendo mal a nós dois. Sabe como é? Eu quero muito viver. Você me conhece , andou tanto tempo perto de mim.
Você sabe que sou cheia de planos, quero agarrar o mundo todo e eu não podia deixar você cronometrando o tempo que eu tinha pra fazer isso. Entende?
Mas fica tranquilo, você cumpriu seu papel, você conseguiu pegar tudo o que eu era e transformar em algo novo que nem sei o que é ainda. Mas estou cheia de vontade de descobrir. Quero beber a vida até o último gole.
Querido câncer, você mostrou a que veio, mas não precisa voltar nunca mais. Prometo escrever de vez em quando.
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