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Foto do escritorVanessa Bonafini

Trabalhar a espiritualidade é benéfico para o paciente oncológico

Atualizado: 28 de fev.

mulher espiritualidade

Quando se passa por um trauma, por uma doença grave ou por uma grande perda, surgem a dor, o medo, os questionamentos sobre a vida, o sofrimento. “Trabalhar com a espiritualidade permite muitas vezes que se encontre um novo significado daquilo que se está vivendo”, diz o oncologista do hospital A Beneficência Portuguesa e colaborador do Instituto Vencer o Câncer, Felipe Moraes Toledo Pereira.


A atenção à espiritualidade está ganhando espaço em centros oncológicos e benefícios aos pacientes já são observados, como diminuição de índices depressão, maior controle da ansiedade e mais comprometimento com o tratamento. E o paciente não precisa ter necessariamente uma religião para trabalhar sua espiritualidade. “Mesmo nas pessoas que não têm religião, a espiritualidade pode e deve ser alimentada. Existem formas de acessar a espiritualidade através da música, da arte, através da meditação”, explica o oncologista.


A seguir, você lê a entrevista que o oncologista Felipe Moraes Toledo Pereira concedeu ao Instituto Vencer o Câncer:


Dr Felipe, qual é a relação entre câncer e espiritualidade? De que forma desenvolver a espiritualidade pode ajudar o paciente oncológico?


Os pacientes que estão enfrentando um câncer, muito comumente, diante de uma situação difícil como essa, levantam questionamentos sobre seu próprio sentido de vida e o propósito pelo qual estão aqui. Isso, por vezes, pode ser fonte de sofrimento espiritual. Por vezes, pode ser fonte de uma perda da esperança em algo que faz, que dê um valor maior e mais amplo a sua própria vida. Nesse sentido, trabalhar e lidar com a espiritualidade permite muitas vezes que se encontre um novo significado daquilo que se está vivendo, a partir de uma perspectiva da transcendência, a partir de um encontro com a divindade, com Deus, com uma força cósmica, isso é particular de cada um. E o que a gente observa em vários estudos é que, conforme as pessoas encontram sentido e propósito no que estão vivendo e ressignificam sua vida a partir de uma relação saudável com o transcendente, com aquilo que chama de sagrado, isso faz com que certos sintomas, como depressão, ansiedade e dor, melhorem no seu controle não só com a terapêutica tradicional, mas também lidando com a espiritualidade.


Muitos pacientes se culpam por estar doentes, outros questionam por que aconteceu com eles. Trabalhar a espiritualidade pode ajudar o paciente a ter respostas que a medicina não oferece a ele?


A questão da espiritualidade está relacionada com o porquê das coisas. Então, é evidente que diante de uma doença grave como câncer, as pessoas poderão fazer questionamentos que muitas vezes são resolvidos pela equipe de uma maneira muito prática. Então, eu tenho um câncer de pulmão muito provavelmente porque passei a vida fumando ou porque tenho exposição grande a fatores de risco.


Porém, essa explicação, que para nós da área da saúde parece suficiente, muitas vezes no universo pessoal de cada um não é a solução. Muitas vezes, a resposta a essa pergunta é muito mais profunda. Muitas vezes, as pessoas querem entender o significado mais amplo daquele fato, daquele acontecimento dentro da sua vida. E quando isso não vem claramente, isso gera uma sensação de desesperança e desespero muito grande. Então, buscar respostas para o sofrimento é uma forma de enfrentá-lo de maneira mais altiva e resiliente. Então, acho que sim, que cuidar da espiritualidade durante o adoecimento permite enfrentar a doença de uma melhor maneira, obtendo melhores resultados.


Como o médico pode introduzir o tema ao paciente?


A equipe de saúde deve agir como sendo uma facilitadora da questão da espiritualidade. Nenhum de nós, evidentemente, quer ter papel de líder religioso ou assistente religioso das pessoas, não se trata disso. Se trata de criar espaço dentro de consultórios, hospitais e ambulatórios para que esse tema seja discutido e que se possa fazer encaminhamentos e orientações. Quando as pessoas trazem esse tema para equipe, a equipe não deve relegá-lo ao segundo plano, mas deve sim valorizá-lo e encaminhá-lo.

E como se trabalha a espiritualidade? Pela religião? E pacientes que não têm religião, como podem fazer isso?


Existem várias formas. A religião é para maioria das pessoas o principal caminho de alimento da espiritualidade; então através das práticas de determinados rituais, de determinadas leituras, orações ou outras ações litúrgicas, as pessoas encontram significado e conexão com o Sagrado e o transcendente. Mas há pessoas que, de fato, não têm religião ou não acreditam em Deus. Mesmo assim a espiritualidade pode e deve ser alimentada. Existem formas de acessar a espiritualidade através da música, da arte, da meditação, que não necessariamente estão conectadas a uma estrutura religiosa específica.


Mesmo em pessoas que não consideram a probabilidade da existência de Deus, essas pessoas inevitavelmente colocam na sua vida determinados pontos como sagrados: seja sua família, seja seu legado profissional e financeiro, o que quer que seja. E reestruturar a maneira como a pessoa entende a sua vida e entende esse desafio (o câncer), pode fazer com que ela tenha um menor sofrimento e saia vitoriosa de uma doença como essa.


É necessário o acompanhamento de um profissional, de um líder, de alguém que oriente o paciente?


O acompanhamento é interprofissional, inter-religioso e ecumênico, ou seja, quando você lida com a espiritualidade não necessariamente a conexão, o vínculo empático se fará entre o paciente e o médico. Muitas vezes, nas internações, nós vemos que esse vínculo pode se dar com qualquer outra pessoa da equipe: técnico de enfermagem, fisioterapeuta, nutricionista etc. O mais importante é que a equipe esteja atenta a discussão desse tema, esteja preparada para acolher as demandas dos pacientes e quando for necessário faça o devido encaminhamento que pode ser ao capelão do hospital ou a um líder religioso da sua comunidade seja judaica, espírita, cristã.


A equipe de saúde deve ser a facilitadora do acesso do paciente aos seus assessores espirituais.






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