Propósito de vida e karma yoga, além de gostos e desgostos
- Vanessa Bonafini
- 15 de abr.
- 3 min de leitura

A busca por uma vida plena é tão antiga quanto a própria humanidade. Na filosofia, psicologia e prática espiritual, existem diferentes perspectivas sobre o que a felicidade significa e como ela pode ser alcançada. Dois conceitos fundamentais que lidam com esse tópico são eudaimonia e dharma.
Enquanto a psicologia muitas vezes distingue entre felicidade hedônica e eudaimônica, a prática espiritual do Karma Yoga vai ainda mais longe, colocando a ação sem apego em seu núcleo. Essa conexão entre psicologia, filosofia e prática transpessoal mostra como a vida além das preferências e aversões pode levar à liberdade interior.
Hedonia e Eudaimonia – Dois Caminhos para a Felicidade
Na psicologia positiva, existem duas abordagens centrais para a felicidade, hedonia e eudaimonia. A felicidade hedônica surge da busca do prazer e da prevenção da dor. Essa perspectiva vê o bem-estar como uma sequência de sensações agradáveis, que, no entanto, geralmente duram apenas por um curto período de tempo. O fenômeno da “esteira hedônica” descreve como as pessoas, depois de experimentar o prazer, muitas vezes retornam à sua linha de base emocional original.
A felicidade eudaimónica, por outro lado, é mais sustentável porque é baseada em valores mais profundos, crescimento pessoal e na realização do potencial de alguém. Não depende de emoções agradáveis, mas surge da decisão consciente de agir de acordo com os valores de alguém, mesmo quando isso vem com desafios e desconforto temporário. Uma vida significativa, portanto, requer mais do que apenas alegria, exige ações em harmonia com o que é profundamente sentido como certo.
Dharma e Karma Yoga - Atuando sem apego
A ideia de eudaimonia encontra um paralelo fascinante nos princípios do Karma Yoga, conforme descrito no Bhagavad Gita. Karma Yoga ensina que a verdadeira ação deve ser independente das preferências e aversões pessoais. A essência deste ensino pode ser resumida na atitude: “Não goste, não não não goste, apenas aja”. Incentiva a realização de tarefas e responsabilidades com uma neutralidade interior - sem apego emocional ao sucesso ou fracasso.
O Dharma, entendido nas tradições védicas como o propósito de vida de um indivíduo, está intimamente ligado a esse princípio. Não se trata de fazer o que é agradável a curto prazo, mas de seguir o que se alinha com o significado mais profundo da existência de alguém. Idealmente, o dharma leva as pessoas a usar suas habilidades e talentos únicos de uma maneira que beneficie não apenas a si mesmas, mas também a comunidade.
O Eu Superior e a Prática Transpessoal outro elemento que complementa essa abordagem é o conceito do Eu Superior, como entendido na psicologia transpessoal. Descreve um estado de consciência que transcende o ego individual e permite a conexão com qualidades universais, como sabedoria, compaixão e imparcialidade. A prática do Karma Yoga promove esse nível de consciência, ensinando que as ações devem ser realizadas sem expectativas ou resistência emocional.
A neutralidade procurada aqui não significa indiferença, mas sim uma forma de liberdade interior. Aqueles que não se agarram aos resultados de suas ações podem se concentrar totalmente no momento presente e na qualidade de suas ações. Suas ações não são mais impulsionadas pelo medo ou desejo, mas emergem de uma consciência clara do que realmente importa.
Além das Preferências Pessoais
A integração da felicidade eudaimônica, dharma e Karma Yoga abre uma perspectiva sobre a vida que não é determinada por circunstâncias externas ou emoções fugazes. Em vez disso, centra-se em uma compreensão mais profunda das ações de alguém. Ao se libertar do apego ao prazer e da aversão ao desconforto, pode surgir uma maior serenidade e uma conexão mais profunda com o Eu Superior.
Uma vida como essa requer prática e consciência. No entanto, aqueles que seguem esse caminho não apenas experimentam o crescimento pessoal, mas também contribuem para um mundo mais harmonioso e consciente. A questão não é o que nos traz alegria a curto prazo, mas o que nos preenche com significado e paz interior a longo prazo.
Na terapia Bodymind, ao contrário das tradições religiosas, o foco é integrar o karma e o dharma, apreciando tanto o prazer quanto o significado e abraçando a hedonia e a eudaimonia não necessariamente no mesmo momento ou às custas um do outro. Para conseguir isso, é necessárrio um esforço consciente para criar uma situação ganha entre os diferentes aspectos do nosso ser, para que eles se complementem em vez de excluir.

Que texto magnifico, adorei saber mais sobre dharma e karma,